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O Autismo nas Empresas

Muito se tem falado sobre o aumento do número de diagnósticos de pessoas com autismo.
O Autismo é um transtorno das habilidades sócio-comunicativas ou transtorno de comunicação social. Ou seja, a pessoa com autismo tem necessariamente dificuldades para comunicar e socializar, além de algumas condutas mais atípicas, como estereotipias e comportamentos restritivos ou repetitivos.
Quanto à causa do autismo, o consenso atual é a soma de fatores genéticos e ambientais.
A Lei n.º 12.764, de 27 de dezembro de 2012, mais conhecida como “Lei Berenice Piana”, instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, estabelecendo, dentre outras diretrizes, o estímulo à inserção da pessoa com autismo no mercado de trabalho.
Foi a primeira legislação federal voltada às pessoas com autismo, que passaram a ser consideradas pessoas com deficiência, para todos os efeitos legais!
Já a Lei n.º 8.213/1991, de 24 de julho de 1991, mais conhecida como “Lei das Cotas”, determina que empresas com 100 empregados ou mais reservem um percentual de vagas para pessoas com deficiência em seu quadro de funcionários. As proporções são as seguintes: de 100 a 200 empregados, a reserva legal é de 2%; de 201 a 500, de 3%; de 501 a 1.000, de 4%; e mais de 1.001, de 5%.
Ainda, as multas para as empresas que descumprirem a legislação podem variar, conforme a gravidade da infração, de R$3.215,07 a R$321.505,87, nos termos da Portaria Interministerial MPS/MF nº 2, de 11 de janeiro de 2024.
Em assim sendo, como as empresas precisam cumprir a “Lei de Cotas” e há grande número de pessoas com autismo para serem inseridas no mercado de trabalho, uma boa solução para o impasse seria apostar mais nesse tipo de mão-de-obra. As pessoas com autismo hoje são classificadas em 3 níveis de suporte (nível 1, quando o indivíduo precisa de pouco suporte; nível 2, quando o suporte necessário é razoável; nível 3, quando o indivíduo precisa de muito suporte). Cada nível demanda uma ou mais necessidades para a melhor adaptação no meio de trabalho, mas, com conscientização e empatia, é possível fazer tudo com bastante tranquilidade.
Normalmente, as pessoas com autismo aprendem pelo ensino e não por intuição, ou seja, uma vez ensinada a tarefa, ela será internalizada e executada com sucesso! Tais pessoas também são extremamente literais, ou seja, as ordens do empregador precisam ser passadas de maneira clara e objetiva, mas quando adequadamente absorvidas, sempre serão fidedignamente cumpridas. Ainda, são pessoas muito sinceras, diante do que eventual motivo para o atraso de uma determinada tarefa sempre estará absolutamente pautado na realidade! É preciso destacar outra habilidade muito recorrente no quadro - o alto poder de memorização, o que faz toda diferença em funções com envolvimento de muitos dados e informações.
Sim, as pessoas com autismo costumam ter limitação para emitir emoções (razão pela qual não será comum um elogio ao colega), confiam em poucas pessoas e necessitam de tréguas do mundo social, o que pode restringir o ciclo de amigos/colegas.
Algumas boas estratégias para o ambiente de trabalho são: usar linguagem simples e regras claras; manter contato frente a frente; deixar o local de trabalho organizado, silencioso e orientado; explicar a rotina por agenda, calendário ou quadro visual; descrever todas as ações; antecipar alterações da rotina; usar cronômetro para ações de tempo; nos momentos de descanso, conversar sobre os assuntos de interesse e/ou hiperfocos da pessoa com autismo; nunca rir dos erros sociais cometidos, exceto se houver abertura e liberdade.
Feito isso, o colaborador com autismo tem tudo para cumprir sua função com dedicação e assertividade, contribuindo para o crescimento da empresa.
Ah! Ter autismo não significa, necessariamente, ter uma habilidade acima da média. Muitos tem e vão aplicá-las nas atividades laborais. Aqueles que não tem, vão contribuir com sua força de trabalho e outras qualidades que engradecem a diversidade e o relacionamento afetivo.
Avalie sinceramente e responsavelmente essa possibilidade!

Fabrícia Santusa, advogada trabalhista e mãe do Enrico, 12 anos e com autismo.

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